domingo, 15 de novembro de 2009

Males que vieram com a modernidade.

Alguns meses atrás comecei a perceber que muitas pessoas talentosas, adultas e que possuíam uma ótima situação financeira, residiam em belas casas, tinham vários carros do ano na garagem, roupas finas e seus filhos estudavam nos melhores colégios da cidade. No entanto, quase sem exceção, não eram pessoas felizes, viviam reclamando, tristes e sem ânimo.
Ao mesmo tempo que eram ricas de bens materiais faltava-lhes o essencial, o gosto pela vida.
Pessoas que pareciam ter tudo para serem felizes! Uma família linda, vida confortável e no entanto eram pessoas entediadas, desesperançosas; consumidas por fantasias absurdas! Muitas vezes drogando9-se com algum veneno (para dormir, para acordar, para ficar alegre, etc.), que pode acabar destruindo seus corpos e oferecendo apenas um alívio passageiro.
Suas vidas ditas por eles mesmos, como “um inferno”.
Agora fico a imaginar como seria uma vida no inferno. Sempre vem a nossa mente a idéia de inferno aliada à idéia de fogo eterno. Nesse caso eu faço um paralelo da idéia de fogo com o desejo. A busca por aplacar todos os desejos, essa tortura provocada pelos próprios desejos. As pessoas na busca da satisfação de todos os objetos de seus desejos acabam por intensificar mais ainda o próprio desejo. O que as leva a um sofrimento emocional sem fim.
O ser humano não se vicia apenas El álcool e narcóticos, mas também em sexo, reconhecimento, comida, roupas, vitória, etc.
O que estou falando aqui é do “descontrole”, o “excesso”. Não podemos deixar esse tipo de coisa definir a nossa vida.
A ânsia desmedida pelo prazer sexual é um dos maiores vícios da modernidade. Esses desejos desenfreados “tentam” preencher um vazio que certas pessoas sentem em suas vidas.
O outro grande mal da modernidade é o mau uso do tempo. Ouvimos diariamente as pessoas falarem “Não tenho tempo!”. “Estou ocupado!” e “Tenho muita coisa para fazer!”.
Mas será que reservamos um tempinho para as coisas tidas como humanamente importantes, como os entes queridos? Usufruir mais da natureza, estudar idéias, praticar uma atividade criativa. Essas prioridades parecem esquecidas.
Porque o tempo desapareceu da nossa cultura?
Como se deu que, após décadas de invenções e tecnologias novas devotadas a economizar tempo e esforço, o resultado é que não se economiza tempo algum?! Somos uma sociedade sem tempo, pobre de tempo.
A vida como fica? Lazer? Férias? Aposentadoria? Recreação? Qual é o verdadeiro valor da vida?
Quem quer que se tenha voltado para essas atividades na esperança de recuperar o senso humano de tempo sabe como elas se tornaram decepcionantes, como é praticamente impossível, home em dia gozar de um temo real, pleno e valioso. Raramente sentimos que o nosso tempo é mesmo “nosso”. Poucas vezes percebemos que estamos conscientemente vivos, aqui e agora, livres da preocupação compulsiva com o passado e o futuro, dispostos a esgotar a plenitude de nossas vidas.
Num sentido muito real, nossas vidas foram-se encurtando mais e mais, ainda que a medicina se esforce para encontrar maneiras engenhosas de prolongar nosso tempo biológico ou animal. Até as pessoas que não se deixam tragar inteiramente pelas atividades exteriores participa da mesma tragédia. Ainda quando não estamos ocupados sentimos inveja dos que estão. Continuamente olhamos à volta para encontrar ocupações, isto é, para sermos devorados por uma atividade exterior. Trememos à idéia de não ter o que fazer. Outros que não estão mergulhados em atividades exteriores e nem as cobiçam, usam seu tempo em sonhos e fantasias ou por miríades de pequenos impulsos, emoções e pensamentos que constantemente brotam dentro de si.
Enfim, o tempo desaparece na ação externa ou nos impulsos internos. Nos afazeres, anseios ou devaneios. Entretanto, o tempo humano é um tempo consciente. Isso foi perdido, destruído. Em seu lugar existe agora o tempo animal (fazer, perambular, predar, comer, construir, matar, etc.). O tempo vegetal (sonhar, enlanguescer, imaginar) é o tempo “mineral”, ou seja, mecânico, de instrumentos como relógio e computadores.
O mundo inferior, o inferno dos antigos hebreus é a condição desse crescente afastamento do homem em relação à Deus.
E na nossa sociedade de cada vez mais o homem foi se afastando de Deus, eu não sei se estamos conscientes disso.
As tecnologias, as invenções, os feitos que prezamos, tudo isso, quase sem exceção, é estimado por nós porque nos permite viver agir de um modo cada vez mais automático, sem a .presença consciente e fatalmente longe de Deus.
Daí tanto sofrimento, tanta dor e o vazio que muitos de nós sentem sem saber o por que.

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